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No ano passado, Estados Unidos protagonizaram maior subida dos gastos no turismo português |
Dez anos mudaram
muito a forma como viajam, mas não tanto a origem dos turistas que mais
dinheiro gastam em Portugal. Tal como acontecia em 2003, também no ano passado
o ranking foi liderado por três países europeus: França, Reino Unido e
Espanha. Mas, apesar de estes mercados ainda representarem uma fatia
significativa das receitas do sector, o seu peso tem vindo a diminuir na última
década, ao mesmo tempo a que se assiste a um multiplicar dos gastos de
visitantes russos, chineses e angolanos.
Num ano recorde nas receitas turísticas, que atingiram globalmente
9249,6 milhões de euros, França consolidou o estatuto de maior contribuinte
para os proveitos do sector, com as despesas dos turistas do país a subirem
8,6% para 1668,5 milhões de euros, mostram os dados divulgados recentemente
pelo Banco de Portugal (BdP). Os franceses roubaram o lugar aos britânicos em
2011, que ocupam desde então o segundo lugar do ranking, tendo gasto
1507 milhões em 2013, após um crescimento de 4,2%.
A Espanha fecha o
círculo dos três principais mercados para o turismo nacional, ao mesmo tempo
que permanece o maior destino das despesas dos visitantes portugueses. No ano
passado, os gastos dos espanhóis em Portugal renderam 1134,6 milhões de euros,
subindo 2,7%. Já o contributo nacional para os proveitos do sector turístico do
país vizinho cresceu 4,7% para 876,2 milhões, embora ainda não tenha atingido o
pico registado no período pré-crise (foi de 1027,4 milhões em 2008).
No conjunto,
franceses, britânicos e espanhóis representaram 46,6% das receitas turísticas
nacionais em 2013 e foram responsáveis por 34,5% do crescimento absoluto
registado entre 2012 e 2013 (644,1 milhões de euros). No relatório sobre a
décima avaliação do actual programa de ajustamento financeiro, o Fundo
Monetário Internacional alertava para o facto de o crescimento das exportações,
sustentado também pelos bons resultados do turismo, poder não ser sustentável,
já que este é um sector muito sujeito a “choques na procura”. Dava, aliás, o
exemplo da líder França, defendendo que os aumentos que se tem registado até
aqui “podem reflectir o desvio de turistas de países do Magrebe “, que têm
vivido um período de instabilidade.
A escalada de
Angola
Apesar da
dependência de Portugal dos três principais mercados, a última década mostra
que as receitas turísticas têm vindo a diluir-se por outras paragens. Aliás,
França, Reino Unido e Espanha pesavam muito mais nas contas do sector em 2003:
52,1% dos 5848,9 milhões alcançados nesse ano. Quatro anos mais tarde, essa
preponderância continuava a acentuar-se, tendo-se chegado a 2007 com um peso de
54,3%. Mas, desde essa altura, a tendência tem sido de maior diversificação.
O reflexo dessa
tendência é claro quando se analisa o ranking dos países que mais
contribuem para as receitas turísticas do país. Se, em 2003, apenas os EUA
surgiam nos sete primeiros lugares na tabela, no ano passado outros dois países
fora da Europa já faziam parte do grupo: Angola e Brasil. No caso do mercado
angolano, a evolução foi galopante. Há uma década, era o 12º mercado mais
importante e hoje é o quinto.
Na última década,
as despesas feitas por turistas angolanos em Portugal subiram 330%, passando de
119,5 para 513,9 milhões de euros. De acordo com os dados do BdP, tratou-se da
terceira maior subida nos últimos dez anos. A mais significativa foi
protagonizada pela Rússia, que cresceu 770%, embora o seu peso seja ainda muito
reduzido, visto que os 79,8 milhões de gastos em território nacional em 2013
representam apenas 0,9% do total. Outro país em destaque é a China, cujas
despesas aumentaram 665%. Mas também neste caso o contributo é muito residual
(34,2 milhões de euros).
Apesar de estarem
muito abaixo no ranking de origem das receitas turísticas, a forte
evolução que se tem sentido nos gastos destes visitantes mostra um potencial de
crescimento que tem vindo a ser impulsionado por uma maior aposta nestes
países, no que diz respeito à estratégia de promoção e de venda do país no
exterior. Exemplo disso é programa de Autorização de Residência para
Actividades de Investimento (ARI), os chamados vistos gold, que
permitem a cidadãos que não pertencem à União Europeia garantir uma autorização
de residência em Portugal em troca de investimento, como a compra de
imobiliário num valor mínimo de meio milhão de euros.
O programa tem
sido maioritariamente procurado por chineses, seguindo-se russos, angolanos e
brasileiros. Como referiu recentemente ao PÚBLICO o presidente da Associação
dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, cada “euro
investido é facilmente multiplicado por cinco ou seis”. Para Luís Lima, estes
investidores acabam por fazer outro tipo de gastos, seja “em mobiliário,
gastronomia, lazer ou saúde”, referiu.
Peso de
13,6% nas exportações
No ano passado, o
maior dinamismo foi protagonizado por um mercado extra-comunitário, os Estados
Unidos. As despesas dos norte-americanos no turismo nacional cresceram mais de
20% para 504 milhões de euros, consolidando a posição do país como sexto maior
contribuinte para o sector. Já o Brasil, que nos últimos anos foi responsável
por alguns dos crescimentos mais fulgurantes (74% entre 2009 e 2010, por
exemplo), teve o crescimento mais ténue, tendo as despesas dos brasileiros
subido apenas 1,2%.
Neste caso, a tendência
de evolução dos gastos tem acompanhado o ritmo de crescimento das chegadas de
brasileiros a Portugal e das estadias na hotelaria nacional, que após fortes
aumentos conhecem agora uma tendência de estagnação. Um fenómeno que não pode
ser dissociado da aposta feita pela TAP neste mercado e que agora esbarra na
necessidade de aumento da frota. Quando os novos aviões chegarem,
previsivelmente este ano, é natural que se retome o ritmo de subida do passado.
O recorde de
9249,6 milhões de euros de receitas turísticas em 2013, que veio reforçar uma
balança comercial historicamente positiva para um saldo final de 6129,9
milhões, foi indispensável para o resultado global das exportações no ano
passado. O turismo
representou 13,6% do total de vendas de bens e serviços para o exterior,
que alcançaram 68.218 milhões, após um acréscimo de 5,7%.
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