segunda-feira, 13 de julho de 2020

Preservação da Amazônia e o falso orgulho nacionalista

José Osório Naves*

Amazônia
Nada mais excitante e recorrente que falar sobre a preservação amazônica brasileira.

O Brasil hoje está no humilde 72° lugar no ranking dos países que cuidam e investem em preservação ambiental, especialmente em defesa da continental Amazônia que abrange, além do Brasil, os países sul-americanos acima do meridiano. Tanto que o Rio Amazonas nasce nas cordilheiras do Peru.

Em toda essa área maior que a Europa meridional, aqui é que ocorrem o maior desmatamento e queimadas no mundo e impressionante número de assassinato de ativistas ambientais.

Isso não ocorre pela incursão estrangeira, como a falácia oficial, mas pela ambição de brasileiros. É a região mais desabitada do planeta e o desmatamento para a agricultura, chega a ser maior que alguns Estados.

Essa predação é para plantio de lavouras mecanizadas, em cuja atividade uma só máquina substitui mais de mil trabalhadores rurais que viam na terra seu sustento. Vantagem apenas para os grandes empreendedores rurais, sem qualquer benefício humano às comunidades indígenas, ribeirinhas ou de caboclos mesmo.

Uma área devastada, mesmo com replantio, nunca se recupera,                       

Demonizando as ONGs e as doações internacionais para a preservação da área mal cuidada pelo Estado, em nome de um nacionalismo vesgo e fantasioso a mirar no alvo de uma ameaça quixotesca à autonomia nacional, o governo brasileiro dissolveu o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) e o Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA), via decreto, em 28 de junho de 2019.

Desqualificou-se as doações da Dinamarca e Alemanha que, sozinhas, mandavam cerca de 18 bilhões de dólares como contribuição anual do Fundo Amazônia.
                          
O Governo e seus seguidores mais reacionários falaram grosso e com a costumeira arrogância ideológica.

- Como a Dinamarca e Alemanha querem nos ensinar a impedir desmatamentos, se não cuidam de suas próprias florestas? Indagaram os mais afoitos.                                                              

Deram um tiro no pé e agora correm atrás do prejuízo causado pela soberba tupiniquim. São 18 bilhões de dólares que gratuitamente deixaram de entrar no país. É como o mendigo que recusa esmolas ou o faminto que despreza a comida.
    
É bom lembrar que lá não têm matas como aqui, mas na Alemanha a Floresta Negra é intocada há milênios. A Dinamarca é gelada, mas sabe preservar o meio ambiente pela educação de seu povo, por isso investem em países sem educação ambiental como como o Brasil.

São ricos e poderosos ao contrário de nós. Têm muito a nos ensinar e nunca foram colonizadores arrogantes, sem maiores pretensões.

O grande perigo é a China que já está comprando tudo, especialmente grandes áreas na Amazônia.  Logo, logo, lá vai estar cheio de chinesinhos se reproduzindo mais que os nativos, transformando a região num país asiático, como bem dizia o governador amazonense Gilberto Mestrinho, décadas atrás.

O desmatamento amazônico por empresas agrícolas e garimpeiros infestaram a região por omissão do Ministro do Meio Ambiente, para dar benesses aos grandes grupos econômicos.

Tanto que na fatídica reunião do dia 22 de abril o Ministro foi muito claro em seus objetivos: - Enquanto o noticiário da demonizada mídia se preocupara com o Covid 19, é hora de passar a boiada das leis permissivas a essa devastação.

Felizmente essa fala do responsável pela preservação ambiental, despertou as consciências mais lúcidas da nação, alertadas pela burrice que se fazia em nome de uma política demagógica e pequenez do falso nacionalismo que estava levando a região, literalmente, para o brejo.

Para salvar, especialmente os 18 bilhões de doações perdidas, em reunião com executivos de grandes empresas e três entidades representativas, o vice-presidente Hamilton Mourão, passando por cima da autonomia do MMA, assumiu a elaboração de metas a serem cumpridas semestralmente contra o desmatamento na Amazônia Legal. O encontro veio a público numa carta assinada por executivos de 50 grandes empresas do Brasil, em que foi manifestada a preocupação com a devastação ambiental. Todos eles colocaram a questão de que tem de ter uma meta, para reduzir o desmatamento ao mínimo aceitável.

As florestas plantadas no Brasil são renováveis e alta produtividade econômica. Se estendem, atualmente, por cerca de 7 milhões de hectares, em sua grande maioria composta de pinus e eucalipto. Sua produção é destinada à indústria de papel e celulose, carvão vegetal, madeira serrada, produtos de madeira sólida e madeira processada, além da borracha que já foi nossa principal riqueza.

Além de pinus e eucalipto, espécies como seringueira, acácia, paricá, teca, araucária e pópulus estão entre as mais cultivadas além da Amazônia. O estado de Minas Gerais lidera em área plantada, contando 1,49 milhão de hectares, seguido por São Paulo, com 1,18 milhão, Paraná, 817 mil, Bahia 616 mil e Santa Catarina com 645 mil hectares. Juntos, estes estados abrangem 72% da superfície nacional de florestas plantadas. Atualmente, o país é um dos maiores produtores de floresta plantada no mundo e em 4º lugar no ranking mundial dos produtores de celulose. A produção brasileira de celulose chegou a totalizar 16,4 milhões de toneladas. Para aumento dos plantios, ampliação e construção de fábricas, até 2020, estima-se investimentos de R$ 53 bilhões, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ).
                   
BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E ECOLÓGICOS - Sistemas Agroflorestais (SAFs) são formas de uso ou manejo da terra, nos quais são combinadas espécies arbóreas (frutíferas e madeireiras) com cultivos agrícolas e criação de animais, de forma simultânea ou em sequência temporal, que promovem benefícios econômicos e ecológicos. Para o presidente da Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura, da CNA, Walter Vieira Rezende, “o solo é o principal patrimônio do produtor rural, e os SAFs surgem como uma alternativa para otimização do uso da terra ao conciliar a produção de alimentos com a produção florestal, conservando o solo e diminuindo a pressão pelo uso da terra para o cultivo agrícola. Áreas de vegetação sem expressão econômica ou social podem ser reabilitadas e usadas racionalmente por meio de práticas agroflorestais, agregando valor à propriedade”, conclui.
                                                                                
Moral da história, reflorestando com responsabilidade, tudo dá, sem precisar de esmolas externas

*José Osório Naves – é jornalista e consultor sênior em turismo.

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