Tássio S. Cardoso: Ciclista, fundador do Pedal Zen e Doutor em Educação pela Uneb
(foto reprodução instagram)
* Por Tássio S. Cardoso
No coração pulsante da modernidade,
onde o concreto sufoca a natureza e o ritmo frenético das cidades nos
desconecta do nosso próprio ser, emerge uma revolução silenciosa e poética: o
cicloturismo de base comunitária. Esse movimento, que floresce como um oásis de
serenidade, transforma a relação das pessoas com os espaços urbanos, oferecendo
uma nova perspectiva sobre a vida e a cidade. E é nesse contexto que o Pedal
Zen encontra seu propósito, desbravando trilhas que resgatam a essência de uma
convivência harmoniosa com a natureza e a cultura local.
O cicloturismo, ao contrário do turismo convencional, não é sobre a
pressa de chegar ao destino, mas sim sobre a jornada em si. Pedalar é um ato
meditativo, um convite à contemplação e à introspecção. Ao girar os pedais, o
corpo se liberta das tensões acumuladas, o coração encontra seu ritmo natural e
a mente se despe do excesso de pensamentos. Nesse processo, o cicloturista
vivencia uma forma de mindfulness, similar à filosofia zen, onde cada pedalada
é um momento presente, um elo com o aqui e o agora.
Os benefícios para o corpo são evidentes. Pedalar fortalece os
músculos, melhora a capacidade cardiovascular e promove a liberação de
endorfinas, hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar. Além disso, o
contato direto com a natureza e o ar fresco revigora o organismo, trazendo uma
sensação de vitalidade e energia renovada. Mas os efeitos benéficos não param
no físico; eles se estendem à mente e ao espírito, proporcionando uma harmonia
interior que muitas vezes se perde na agitação do cotidiano urbano.
Através do Pedal Zen, essa filosofia ganha vida em trilhas que
revelam a riqueza histórica e cultural dos destinos visitados. Em
Massarandupió, Barra de Itariri, Subúrbio e no Centro Histórico de Salvador, o
cicloturismo se torna uma ponte entre o passado e o presente, conectando o
viajante à alma dos lugares. Cada pedalada é uma descoberta, uma interação
afetiva com as paisagens e as pessoas que habitam esses espaços. A bicicleta,
silenciosa e ecológica, permite uma aproximação genuína e respeitosa com o meio
ambiente e a comunidade local.
O cicloturismo de base comunitária promove uma ocupação poética da
cidade. Ele nos ensina a olhar para os espaços urbanos com novos olhos, a
encontrar beleza nas pequenas coisas e a valorizar a simplicidade. É uma forma
de resistência contra a desumanização das metrópoles, uma celebração da vida em
sua forma mais pura e essencial. Através do Pedal Zen, redescobrimos o prazer
de explorar, de nos conectar com o outro e com nós mesmos, numa jornada que é
tanto exterior quanto interior.
Essa prática renova o mundo porque transforma as pessoas. Cada
cicloturista que desbrava uma trilha do Pedal Zen leva consigo uma nova visão
de mundo, mais sensível, consciente e solidária. É um movimento que cresce,
silencioso mas poderoso, como uma correnteza que, aos poucos, molda o curso de
um rio. E assim, pedalada a pedalada, vamos ocupando a cidade de forma poética,
deixando um rastro de esperança e renovação.
O Pedal Zen encontra seu propósito, resgatando convivência
harmoniosa com a natureza e a cultura
* Tássio S. Cardoso: Ciclista, fundador do Pedal Zen e Doutor em Educação pela Uneb
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