sábado, 19 de outubro de 2024

A escassez de mão-de-obra qualificada no turismo do Brasil e o Sistema “S” de Turismo.

O turismo brasileiro continua a ser um dos setores mais promissores da economia nacional, com capacidade de gerar emprego, renda e promover o desenvolvimento regional. Entretanto, em outubro de 2024, o setor ainda enfrenta um problema crítico: a escassez de mão-de-obra qualificada. Essa carência afeta principalmente áreas estratégicas, como hotelaria, gastronomia e serviços especializados, prejudicando a capacidade do Brasil de explorar todo o seu potencial turístico. Com a proximidade da COP 30, que será realizada em Belém, Pará, em 2025, essa deficiência se torna ainda mais alarmante, dada a expectativa de receber um grande volume de visitantes internacionais.

O panorama atual da qualificação no turismo brasileiro.

Dados atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o turismo emprega cerca de 7,5 milhões de brasileiros, o que equivale a 8,1% da força de trabalho formal. No entanto, o nível de qualificação desses trabalhadores ainda não atende às exigências de um mercado que demanda serviços de alta qualidade. Um levantamento da Confederação Nacional do Turismo (CNTur) aponta que cerca de 82% das empresas do setor relatam dificuldades em contratar profissionais adequados às suas necessidades.

A carência é ainda mais grave em segmentos como a hotelaria e gastronomia. Regiões turísticas como o Nordeste e a Amazônia, que têm potencial para o crescimento do ecoturismo e turismo cultural, sofrem com a falta de pessoal qualificado para atender à demanda crescente. De acordo com o Ministério do Turismo, apenas 6% dos trabalhadores do setor possuem formação técnica formal, o que cria uma lacuna significativa para atender à demanda de serviços de qualidade, especialmente em regiões com alto fluxo turístico.

A urgência da criação do Sistema “S” de Turismo.

Diante desse cenário, a criação de um Sistema S voltado exclusivamente para o setor de turismo se torna cada vez mais urgente. O Sestur (Serviço Social do Turismo) e o Senatur (Serviço Nacional de Aprendizagem do Turismo) surgem como soluções viáveis e necessárias para enfrentar o déficit de qualificação no setor.

Sestur e o Senatur teriam como missão a formação e capacitação de profissionais em todo o Brasil. Esse modelo possibilitaria a oferta de cursos técnicos e programas de qualificação voltados especificamente para áreas como hotelaria, gastronomia, gestão de eventos, lazer, turismo cultural e ecológico. Esse sistema seria fundamental para garantir que o Brasil possa competir de forma sustentável e eficaz no mercado global de turismo.

Confederação Nacional do Turismo (CNTur) já debate a implementação dessas instituições. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estimou que a criação de um sistema especializado em formação turística poderia aumentar a produtividade do setor em até 25% nos próximos cinco anos, além de contribuir diretamente para o aumento da participação do turismo no PIB nacional, que atualmente gira em torno de 3,8%.

Desafios e oportunidades para o Brasil.

O turismo no Brasil enfrenta desafios que vão além da qualificação, como a infraestrutura insuficiente em áreas remotas e a sazonalidade que afeta várias regiões turísticas. Entretanto, a escassez de mão-de-obra qualificada é um problema que impacta diretamente tanto as grandes cidades quanto os destinos de nicho. De pousadas no interior a grandes redes hoteleiras em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, a falta de profissionais treinados é uma barreira ao crescimento do setor.

A criação do Sestur e do Senatur ajudaria a mitigar esses desafios, ao garantir a formação de uma mão-de-obra qualificada e alinhada às demandas do mercado. Focar em habilidades práticas, como atendimento ao cliente, gestão de operações hoteleiras, hospitalidade sustentável e domínio de línguas estrangeiras, ajudaria a transformar a realidade do turismo brasileiro. Além disso, essa capacitação promoveria a inclusão social e o desenvolvimento econômico de comunidades em regiões menos favorecidas, como áreas rurais e zonas de turismo ecológico.

A urgência da capacitação frente à COP 30 e outros eventos.

Com a COP 30 programada para ocorrer em Belém em novembro de 2025, o Brasil enfrenta uma corrida contra o tempo para capacitar a força de trabalho local. Eventos desse porte trazem desafios logísticos e uma demanda crescente por serviços qualificados. A preparação para a COP 30 exige desde recepcionistas poliglotas em hotéis e restaurantes até guias turísticos especializados em hospitalidade sustentável e conservação ambiental. A falta de qualificação adequada poderia comprometer a imagem do Brasil como destino de eventos globais e prejudicar a experiência dos visitantes.

A experiência de eventos anteriores, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, mostrou que, sem a devida capacitação, o país corre o risco de perder oportunidades de alavancar o turismo como uma verdadeira força econômica. A criação de um Sistema S voltado para o turismo permitiria ao Brasil estar melhor preparado não apenas para a COP 30, mas para se consolidar como um destino turístico competitivo no cenário internacional.

A escassez de mão-de-obra qualificada no setor de turismo no Brasil é um problema estrutural que precisa de soluções rápidas e eficazes. A criação do Sestur e do Senatur oferece uma resposta estratégica para os desafios do setor, possibilitando o desenvolvimento de um turismo mais qualificado e sustentável. A qualificação profissional é fundamental para melhorar a experiência dos turistas, aumentar a competitividade das empresas e promover o desenvolvimento regional.

Com a chegada de eventos internacionais de grande porte, como a COP 30, a urgência de investir na qualificação da força de trabalho turística se torna ainda mais evidente. O Brasil tem a oportunidade de transformar o turismo em um dos principais motores de sua economia, mas para isso, é necessário agir agora.

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