O Brasil já dispõe de ciência, tecnologia e de atores dos negócios sustentáveis capazes de liderar as urgentes e profundas transformações no sistema agroalimentar global
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Brasil no debate sobre a proteção do meio ambiente - (crédito: Maurenilson Freire) |
Por Fernando Barros — Jornalista e diretor executivo do Instituto Fórum do Futuro - Correio Brasiliense - Opinião.
O mês de novembro, de 2023, trouxe de Dubai uma notícia que encheu de esperanças os mais diversos espectros da opinião pública nacional: o Brasil fora eleito para sediar a COP-30, em Belém do Pará. Seria a nossa vez de exibir ao mundo tantas potencialidades contidas? Será mesmo? Os esforços não são pequenos, mas os desafios se agigantaram. Nas últimas COPs, predominou a disputa de narrativas, entre os que querem conservar para estagnar e os que insistem em desmatar e retroceder nos marcos civilizatórios. Haverá agora espaço e visibilidade para debater a solução de problemas reais, em bases racionais, referenciadas em Ciência e o Planejamento estratégico?
O Brasil já dispõe de ciência, tecnologia e de atores dos negócios sustentáveis capazes de liderar as urgentes e profundas transformações no sistema agroalimentar global. E, sabemos: a lógica do desmatamento beneficia a poucos.
Temos a tão revolucionária quanto desconhecida Agricultura Tropical Regenerativa: oferece alimentos mais saudáveis, mais nutritivos; produzidos de forma sustentável, resiliente a mudanças climáticas, sequestra carbono no solo (solo é vida) e reduz o uso de fertilizantes e defensivos de base química. Aplicar conhecimentos já disponíveis significa mais do que dobrar a produção dos alimentos sem derrubar uma única árvore e gerar emprego e renda dignos, em harmonia com os anseios e valores dos jovens urbanos de São Paulo, Toquio ou Paris.
A polarização nos impede
de ouvir e enxergar, cancela oportunidades, veda a organização das cadeias
produtivas, e deleta a chance de demonstrar como conciliar desenvolvimento com
impacto mínimo sobre a natureza.
A guerra de narrativas -
uma briga de foice no escuro onde é cada um por si e Deus por ninguém - encobre
nossas virtudes. Mas, não conseguirá impedir que a imprensa mundial desembarque
em Belém, fotografando o resultado de um impasse político de décadas.
O Pará joga 91% de seus esgotos, sem tratamento, nos rios amazônicos. Cerca de 80% da pupunha consumida pelo País vem da cadeia produtiva organizada em Santa Catarina, assim como 71% da borracha tem origem na Bahia e em São Paulo. A demanda pelo Açaí, submetido à uma lógica de produção medieval, cresce 15% ao ano. A oferta, 5%. Na prática, mais pressão sobre a floresta e condições de trabalho desumanas.
Na Amazônia, ignora-se a Ciência, a dimensão humana e a viabilidade econômica. Para a cidadania, restam os fatos: segundo o IBGE, a região Norte é campeã nacional em miséria e fome e lidera o ranking nacional da favelização urbana: em 1º lugar, Belém, com 57,1% da população; em 2º, Manaus, com 55,8%; em 5º, Macapá, com 26,9%.
No seu “Nosso Futuro Comum”, Gro Brundlant, criadora em 1987 do conceito do desenvolvimento sustentável, já alertava: “sem viabilidade econômica, não haverá o social, ou o ambiental. Com a sorte nas mãos do imponderável, como esperar que os 28 milhões de habitantes da Amazônia assumam compromissos com a Natureza?
Alysson Paolinelli, fundador do Fórum do Futuro cunhou uma saída plausível, que em 25 de junho será debatida em Workshop com o Banco Mundial, em Washington: promover a inclusão social, econômica e digital das dezenas de milhões de produtores do mundo tropical hoje excluídos do conhecimento. Com apoio da EMBRAPA e da UFLA, esse roteiro foi atualizado pelo Presidente do Conselho Consultivo do Fórum, Roberto Rodrigues, ao propor soluções que respondem à insegurança alimentar e energética; às mudanças climáticas; e à desigualdade social.
Comunicar é fundamental,
mas, ser ouvido pelos jovens - 50% do mercado, no Brasil, têm menos que 35 anos
– exige exibir propostas práticas, realistas e confiáveis, orientadas para o
propósito de um Terceiro Grande Ciclo de Inovações no Agroalimentar.
Há vários modelos de eficiência. A Holanda, 176 vezes menor que o Brasil, consegue ser o segundo maior exportador agroindustrial do Planeta. Não faz nada sem ouvir Wageningen (a melhor universidade agropecuária do mundo), o Estado e os produtores rurais. É assim que colocam uma hortaliça em Nova Iorque em 24 horas, enquanto o Brasil discute se vai escoar a produção por trem, ou por estradas enlameadas.
Não importa o tamanho da crise. Os exemplos da História o compromisso com a Ciência e com o Diálogo democrático sempre nos mostram alternativas que pavimentem um novo caminho na direção do Nosso Futuro Comum.
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao
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