Ucrânia promete manter abastecimento de energia e despesas da área.
Rússia diz estar pronta para ajudar península com US$ 1 bilhão.
À margem do referendo de domingo (16) na Crimeia sobre sua anexação à Rússia,
há uma importante questão sobre o futuro desta península: quais serão as
consequências econômicas para a região caso decida cortar os laços com a
Ucrânia? Uma semana antes da votação, um parlamentar russo anunciou que Moscou
estava pronto para fornecer uma ajuda de mais de um bilhão de dólares a esta
península no sul da Ucrânia, ponto de acesso estratégico ao Mar Negro, e que
está sob controle russo.
Por parte da Ucrânia, Kiev promete "cobrir todas as despesas
orçamentais na Crimeia (...) a Crimeia será financiada, como de costume",
segundo o ministro das Finanças da Ucrânia, Oleksandr Chlapak.
A Ucrânia assegura aos dois milhões
de habitantes da Crimeia, cuja área é ligeiramente menor do que a da Bélgica,
85% dos recursos hídricos da península e 82% de sua eletricidade, afirma o
especialista em energia Mykhailo Gonchar, do centro Nomos em Kiev, contactado
pela AFP.
As necessidades de gás da Crimeia são cobertas pela empresa estatal
Tchornomornaftogaz, que extrai 1,6 bilhões de metros cúbicos de gás natural do
Mar Negro a cada ano, ressalta o especialista.
No entanto, se a Crimeia fizer parte da Rússia, esta última 'não será
capaz de compensar os recursos de curto prazo que a Ucrânia fornece à Crimeia,
porque não existe infraestrutura entre a Rússia e a Crimeia', avisa. Um pequeno
trecho de mar separa a Rússia do extremo leste da Crimeia, e apesar de o primeiro-ministro
russo, Dmitri Medvedev, ter assinado em 3 de março um decreto sobre a
construção de uma ponte, esta ficaria pronta apenas em alguns anos.
- O problema do turismo
Para a Crimeia, um destino privilegiado na era soviética e até hoje
muito procurado por turistas russos, o turismo é um dos principais pilares de
sua economia. Mas, com a chegada das tropas russas e navios de guerra, os
resorts, como os de Yalta e Evpatoria, já temem perdas e uma péssima temporada
turística. 'Muitas pessoas decidiram não ir para a Crimeia, porque é perigoso,
não é um lugar seguro', explica Sevguil Mousa¯eva, famoso jornalista ucraniano.
'No ano passado, mais de dois milhões de turistas passaram pela Crimeia,
o que vai ser este ano? Eu não consigo imaginar', preocupa-se o jornalista.
As empresas, que correm o risco de perder seus clientes se a Crimeia
passar a integrar a Rússia, 'estão chocadas com esta situação. Elas não
conseguem acreditar. Ontem era um território ucraniano, agora há um monte de
soldados perto dos escritórios, muitas bandeiras russas nas prefeituras,
escolas'.
As companhias não têm cedido ao pânico, segundo o jornalista, mas a
situação econômica da península, que já não era positiva, pode piorar à medida
que a crise diplomática se agrave. considera Olexi¯ Chorik, presidente do
Fundos de Desenvolvimento para a Crimeia.
- Agircultura e recursos hídricos
Além do turismo, um dos motores da economia da península é a
agricultura, que é 'altamente dependente dos recursos hídricos que vêm do resto
da Ucrânia, por isso todos temem os cortes caso a situação piore', observa
Chorik. 'É ridículo dizer que haverá investimentos na Crimeia, se o desconforto
continuar. A Crimeia é um território perdido para o desenvolvimento econômico',
diz ele.
Quarta-feira, os líderes autoproclamados da Crimeia avisaram que iriam
começar a invadir as empresas estatais ucranianas, assegurando que não tocariam
nas empresas privadas. A cada ano, a Ucrânia gasta 2,8 bilhões de hryvnia (220
milhões de euros) na Crimeia, segundo Valerii Tchali, vice-diretor do Centro
Razumkov, um think-tank com sede em Kiev, e ex-vice-ministro das Relações Exteriores
da Ucrânia.
Se Moscou pagar os 1,1 bilhões de dólares como declarou o parlamentar
russo Pavel Dorokhine, membro da comissão parlamentar da Duma sobre a
indústria, 'não será o suficiente para manter as novas autoridades e garantir
todos os benefícios dos cidadãos da Crimeia', incluindo as pensões e salários,
declarou à AFP Tchali.
E se a economia sofre por ter cortado seus laços com a Ucrânia, esta
última não verá nenhuma diferença, pelo menos no curto prazo, acredita Tchali.
'A economia local da Crimeia no produto interno bruto da Ucrânia não
exceda 3%, por isso não é uma grande perda por agora. Mas as consequências a
longo prazo serão mais sensíveis', advertiu.

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