segunda-feira, 2 de junho de 2014

Filme abordará turismo em favelas

Com estreia nesta quinta, documentário registra a atração de turistas pelos morros cariocas


Rio - ‘Tudo lá no morro é diferente/ Daquela gente não se pode duvidar’, cantava o samba ‘Linguagem do Morro’, de Padeirinho da Mangueira, nos anos 1950. Era um tempo em que as favelas do Rio eram vistas de forma romanceada. Hoje, as diferenças são de outra ordem e conhecê-las virou objeto de desejo de visitantes. Esse é o tema do filme ‘Em Busca de um Lugar Comum’, de Felippe Schultz Mussel, que tem estreia marcada para esta quinta-feira em salas de cinema no Rio, em São Paulo e Belo Horizonte. A pré-estreia do documentário acontece na terça, em sessão gratuita, na Praça São Salvador, no Flamengo.
O filme mostra 12 passeios realizados por empresas e guias locais na Rocinha em 2011, às vésperas da implantação da UPP na comunidade. “É um filme sem entrevistas, só filmamos as excursões de turistas estrangeiros.Nosso interesse é o encontro entre turista e favela, mediado pelos guias”, conta Felippe. A transformação da favela em destino turístico encontra resistências. O cineasta sabe disso, mas não se posiciona. “Queremos investigar por que ela acontece”, indica.
Quadra da escola de samba na Rocinha recebe muitos estrangeiros
Foto:  Divulgação
A obra de Mussel faz referência ao filme ‘Cidade de Deus’, de Fernando Meireles. Lançado em 2002, tornou-se campeão de bilheteria e ajudou a fermentar o imaginário do público internacional sobre as comunidades cariocas. “A favela virou um atrativo a partir do filme, aliada a uma expansão mundial do turismo de realidade”, argumenta o diretor.
A Cidade de Deus é retratada numa passagem curiosa: uma empresa, percebendo a saturação do mercado turístico na Rocinha, migrou para a favela da Zona Oeste e realizou uma avaliação do potencial turístico na companhia de policiais da UPP. “A presença do tráfico atrai o turista.Agora, é a pacificação quem convida o turista, que tira fotos ao lado de policiais com fuzil”, diz o diretor.
Mussel acredita que os turistas que vierem para o Mundial buscam novas aventuras. “Eles sabem que a estrutura não vai ser boa. O turismo de favela será um símbolo desse Brasil, país do improviso”, acredita.
Livro serviu de inspiração
“A favela não é mais um programa alternativo para o turista”. A frase é da socióloga Bianca Freire-Medeiros (FGV) que estuda o tema da comunidade como produto turístico. Ela é autora do livro ‘Gringo na Laje’, lançado em 2009, que serviu de inspiração para o filme de Felippe. “O turista sente que conheceu o verdadeiro Rio ao visitar a favela”, acredita.
Em 2012, ela participou de pesquisa encomendada pelo Ministério do Turismo sobre o assunto, e diz que os visitantes encontram nas favelas um resumo dos estereótipos do Brasil. “Os guias trabalham com a ideia de que a favela é o berço do samba e do funk”, indicou.
Medeiros minimiza o impacto das UPPs sobre a atividade turística na Rocinha, e acredita que, na Copa, os turistas não vão procurar o lado exótico das favelas. “A cidade como um todo é exótica, e sua parte mais real está na favela”, resume.

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