Os cursos superiores de turismo no Brasil
Fonte: Jornal do BrasilBayard Do Coutto
Boiteux*
Tenho
andado muito preocupado com os rumos do ensino superior do turismo,em nosso
país. Vejo, com tristeza o fechamento de várias faculdades e a não
formação de primeiro período, na maior parte das instituições de ensino. Hoje,
quase 70% de todas as faculdades brasileiras têm menos de 200 alunos na área e
acabam esquecendo os investimentos que deveriam ser feitos, já que priorizam
cursos que conseguem viabilizá-las financeiramente. Resolvi então estudar o problema e passo
a fazer algumas considerações.
Por
outro lado, é preciso entender que um estudante de turismo, para ter sucesso
precisa fazer investimentos. Eles começam na possibilidade de experiências
internacionais, como intercâmbios, viagens ou seja percepção in loco de uma
diversidade linguística, cultural e globalizada. Os idiomas são
fundamentais, e pelo menos o inglês deveria ser pré-requisito nas
faculdades de turismo. O fato de as mesmas incluírem as chamadas línguas
estrangeiras em suas grades não é suficiente. O que se propõe teoricamente é
uma otimização do vocabulário técnico e não a fluência escrita e oral
necessárias. Faz-se também imprescindível aprimoramento constante em cursos de
extensão, participação em seminários e eventos especializados, além das grandes
feiras. Hoje, vejo que alguns alunos não conseguem nem sequer custear as
atividades complementares obrigatórias, como as visitas técnicas.
Penso
sempre na importância do estágio, desde os primeiros períodos. O aluno vai
poder vivenciar várias áreas e buscar a que mais lhe apraz, sem esquecer que
todas acabam por interagir. Por isso, as faculdades devem também possuir
laboratórios específicos, gerenciados por alunos sob supervisão docente. Eles
permitem não só a prática mas que o mercado possa de alguma forma utilizar tais
laboratórios para distribuição de seus produtos ou então fazer deles
verdadeiras incubadoras.
A
gestão acadêmica precisa de liberdade: pensar, colocar em prática novas
tecnologias e principalmente conquistar espaços no empresariado, que deve estar
presente diariamente nas instituições. Não só nas salas de aula, apesar de sua
pouca titulação e produção acadêmica, via de regra mas em palestras,
seminários, aulas inaugurais e assessorando os rumos que devem tomar aquelas
faculdades que vão sobreviver e que serão poucas, penso eu. Um gestor não pode
ser um seguidor de parâmetros educacionais criados, sem nenhuma autonomia. Não
há evolução em tais modelos e chega-se a gestores medíocres, que para
sobreviverem acatam ordens, sem nenhum discernimento. Pessoalmente, não consigo
trabalhar sem um mínimo de liberdade na administração educacional.
Finalmente,
o aluno precisa ser melhor orientado. Hoje, muitos questionam em redes sociais
práticas dos cursos por não saberem o que é estudar numa faculdade, como se
comporta um coordenador, como deve agir um aluno que estuda numa faculdade. Por
pouco conhecimento, repetem o mesmo discurso de que ”são clientes e merecem
respeito”, ou seja, fizeram do ensino uma relação mercadológica. Só atentam
para aspectos materiais. São incapazes de fazer manifestações para
regulamentação da profissão ou ainda exigirem professores efetivamente
comprometidos com o saber necessário, para uma sociedade que não vive só de
técnicas operacionais. Volto a afirmar que como alguns fazem parte de uma
primeira leva familiar que entrou na faculdade ou são empurrados para os bancos
escolares pelos pais que acham que a faculdade vai proporcionar sozinha um novo
cidadão. Não, não mesmo. As famílias são fundamentais no acompanhamento de SEUS
filhos, buletins, seus posts em redes sociais, entre outros.
A
verdade é que ando preocupado com faculdades que só inscrevem parte dos alunos
no Enade e se apresentam em anúncios como as melhores do país, com os salários
pagos em alguns segmentos da atividade turística e pela falta de criatividade
do setor, que deve se apoiar na “academia”, para novas descobertas comerciais.
Não sei quanto tempo vou permanecer como gestor (hoje completei 30 anos de
coordenação de curso), mas queria, sinceramente, mudanças drásticas, pois
acredito no bacharelado em turismo e no turismólogo.
* Bayard Do
Coutto Boiteux, professor universitário, é escritor,pesquisador e preside o
Site Consultoria em Turismo. - www.bayardboiteux.com.br
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