O turismo rural como gerador de
renda e riqueza no campo
Maurício
Antônio Lopes
Presidente
da Embrapa
O
turismo é responsável por um em cada onze empregos e cerca de 10% do PIB
global, desempenhando importante papel nos países em desenvolvimento como
gerador de riqueza e inclusão social.
Estima-se que até 2030 cerca de 1.8 bilhão de turistas estarão circulando
pelo mundo anualmente, mais da metade deles em economias emergentes. Neste cenário, o turismo rural tenderá a
ganhar destaque, em função do apelo que a natureza exerce sobre uma sociedade
cada vez mais urbanizada, mas preocupada com o meio ambiente. A Europa já é exemplo dessa tendência. Quem já viajou pelo interior da Itália,
França, Espanha e Portugal percebe de imediato o impacto que a integração entre
agricultura, cultura, gastronomia e turismo promove nas economias locais,
viabilizando imensa gama de novos negócios, emprego e renda, além da
preservação das tradições, dos costumes locais e da paisagem rural.
O
Chile é outro exemplo, bem mais próximo de nós.
O Caderno de Turismo do Correio Braziliense mostrou recentemente o Valle
do Colchagua - no sopé da Cordilheira dos Andes, distante 150 km da capital
Santiago. Aquela região agrícola
concentra importantes vinhedos e incorporou de vez o turismo em sua
economia. Além da produção de vinho, da
cultura preservada e das belas paisagens que unem mar e montanhas, a região
atrai grande número de turistas, que podem desfrutar os vinhos e a culinária
locais, além de passeios e aventuras. O
Brasil tem exemplo semelhante no Vale dos Vinhedos, baseado no legado histórico
e gastronômico dos imigrantes italianos, que chegaram à Serra Gaúcha ainda no
século 19. Ali, a integração entre
agricultura e turismo funciona como estímulo para a economia regional,
favorecida pela hospitalidade de seus moradores e pelas belas paisagens rurais,
além da infraestrutura turística de qualidade.
Mas
o Brasil pode ainda mais. Formado pela
integração das raças européias, indígenas e negra, o nosso país é um
“fervedouro cultural” que fascina o mundo por aspectos como a música, a
religião, o folclore, as festividades populares e a diversidade culinária. Com uma extensa superfície de terra contínua,
imensa riqueza hidrográfica, uma das mais longas costas tropicais do planeta –
com centenas de praias paradisíacas, ampla gama de condições climáticas - de
temperadas a tropicais, e a mais rica biodiversidade terrestre do planeta, o
Brasil tem paisagens e ambientes únicos.
Por isso não é exagero nenhum considerar o nosso país privilegiado para
o desenvolvimento de uma possante indústria turística no futuro.
Como
atividade baseada em recurso natural, cultural ou em ambos, o turismo é uma
indústria de imenso impacto potencial para o mundo rural brasileiro. E a culinária e os alimentos tipicamente
brasileiros poderão se integrar cada vez mais ao turismo, respondendo à busca
por sabores e aromas típicos, por experiências sensoriais únicas e memoráveis,
pela autenticidade dos produtores artesanais e das práticas e hábitos
tradicionais. A nossa agricultura tem
tudo para se integrar à onda do
multiculturalismo, que vem sendo impulsionada pela globalização, pela Internet
e pela expansão do turismo internacional.
Assim, alimentos e bebidas antes considerados exóticos ganham o gosto do
consumidor, como é o caso do açaí, do pão de queijo, do churrasco e da
caipirinha, hoje apreciados em muitos lugares do mundo.
Para
que possamos fortalecer o turismo como alternativa de desenvolvimento rural
associado à cultura e à gastronomia, será necessário ampliar o conhecimento da
imensa diversidade do que se produz e se
consome em diferentes partes do país, à semelhança do que fez a França. Em seu Inventário do Patrimônio Culinário, de
1989, os franceses investiram no conhecimento dos seus produtos culinários,
dando um passo essencial para o seu reconhecimento como patrimônio
cultural. Se inventário similar for
realizado no Brasil, teremos mais elementos para fortalecer a imagem dos nossos
alimentos e da nossa gastronomia como produtos turísticos diferenciados,
atendendo às necessidades de uma indústria turística cada vez mais dinâmica,
competitiva e exigente.
A
Embrapa, atenta a essas tendências, vem desenvolvendo um conjunto de projetos e
ações que valorizam e dinamizam a produção de alimentos locais e regionais, com
um olhar atento para a sinergia agricultura-turismo. Um exemplo é o programa Rota do Cordeiro,
originado no Ceará, para profissionalização das cadeias produtivas da
ovinocultura e da caprinocultura, com foco na sustentabilidade da produção, na
regularização e na padronização da oferta de produtos diferenciados e na
promoção do consumo. Em parceria com o
BNDES, a Embrapa desenvolve um amplo programa de incentivo à diversificação,
especialização e exploração da multifuncionalidade das áreas rurais, com grande
potencial de impacto na oferta de produtos diferenciados, na gastronomia e no
turismo.
Temos
à frente o enorme desafio de organizar o rico leque de saberes, sabores e
aromas que marcam a nossa culinária, definem a nossa identidade e conformam
produtos turísticos em grande demanda. A
agricultura, que projetou o Brasil como grande exportador de alimentos, poderá
contribuir também para difundir para o mundo a cultura alimentar brasileira e
suas possibilidades gastronômicas, com geração de inclusão, renda e riqueza no
campo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário